Quem sou eu?
- Júlia Orige
- 27 de dez. de 2015
- 3 min de leitura

Pára.
Aonde vais tu? Quem és?
De onde vieste?
Pára.
Pensa.
Parei.
Quem sou eu?
Sou o vento que batia na minha janela num sítio no sul do sul do Brasil. Sou o primeiro avião que peguei, aos dez anos, pro Rio de Janeiro e o segundo, por consequência, para Luanda. Sou as primeiras 27 páginas que li do primeiro livro que li sozinha. Sou os amigos que fiz e os filmes que vi. Sou os 227 livros que li e o fato de contá-los também. Sou minha mãe, que tem sempre frases prontas para ajudar. Sou o vestibular que passei, a universidade que frequento e o trote de que fugi. Sou minha gatinha que pulou do nono andar e meu tio que deu um tiro no próprio pescoço. Sou a felicidade que vivi ao ver coisas novas, ao amar e ao sentir.
Sou meu pai, que nunca vai querer ver ninguém triste. Sou minha melhor amiga, que não sabe quem é. Sou minha caligrafia, minhas roupas, meu quarto. Sou tudo o que vivi e o que não vivi, o que ainda vou viver. Sou a premissa do que está por acontecer.
Sou, sendo. Sou eu.
Eu nasci em Criciúma, sul do estado de Santa Catarina. Morei até meus dez anos em Cocal do Sul, uma cidadezinha ali por perto. Passei dois anos em Angola, Luanda e voltei para Criciúma, onde fiquei por mais três invernos. Então me mudei para Florianópolis. Estava no segundo ano do Ensino Médio e com 15 anos.
Nunca me custei muito com mudanças, a ideia de morar na ilha veio do nada e se consolidou simplesmente porque queríamos. Meu pai continuou por um bom tempo trabalhando em Criciúma, na universidade, e minha mãe estava fazendo doutorado. Eu mudei de escola. Foi bom, foi onde comecei a ver que as coisas não precisavam ser do jeito que eram em Criciúma, onde ninguém gostava muito de mim, sabe-se lá por que.
Bom, Florianópolis para mim significou liberdade. Eu podia ser quem eu era e ninguém me condenaria por isso, havia pessoas mais loucas que eu, tava tudo bem. Ninguém implicava se eu não tinha um namorado ou se eu não gostava de usar calças. Creio que esse efeito libertador se deve à UFSC. Muita gente vai para estudar e, estando longe da família, se julga em posição de ser quem quiser. Porque se você ferrar as coisas com conhecidos, tudo bem, dê adeus e arranje outros, mas não dá pra arranjar outra família.
A universidade mistura culturas diversas, interesses diversos, põe em contato pessoas que em outras situações não trocariam informações. Claro que ela é também um mundo à parte, uma cidade dentro da cidade. Às vezes, quando saio, vejo que vivo numa bolha ideologica, onde tudo é lindo. Mas a realidade está bem perto de mim, onde as pessoas não têm grande apreço pela vida alheia.
Ora, quem eu sou?
Sou tudo o que vivi. E só pelo que vivi que digo hoje o que tenho para dizer. Minha mãe sempre diz que não se pode esperar de um pé de laranja que nos dê uma maça. Não se pode esperar de uma pessoa o que ela não tem para dar, o que ela não aprendeu. Somos o que somos porque vivemos o que vivemos.
E tudo seria diferente
Se o que foi
Não fosse.
Se você assinar a nossa newsletter vai ficar sabendo sempre que tivermos conteúdos interessantes novos! O que acha de acompanhar o projeto IgualDesigual?
Comments