A culpa é irracional e o livre arbítrio não existe
- Júlia Orige
- 4 de mar. de 2016
- 2 min de leitura
Um dos livros que mais me marcou foi "Humano, demasiado humano" do Nietzsche. É um livro de aforismos, ou seja, pensamentos desenvolvidos de maneira curta, organizados em tópicos, quase citações. Um deles fala que a culpa é irracional e o livre arbítrio uma invenção confortável. Gostamos de pensar que temos escolha, porque parece libertário. Mas também é uma forma de controle. Se você teve escolha, tudo o que aconteceu de ruim na sua vida é culpa sua. E também o que não aconteceu de bom.
A culpa serve como chantagem emocional, como manipulação. Serve para a Igreja, é "pagar os pecados". Mas e se não for bem assim? Se, na verdade, não somos tão livres assim? Somos escravos de nós mesmos, de nossa personalidade e isso não é necessariamente ruim.
Por que o livre arbítrio não existe?
Mesmo tendo escolhas, decidimos de acordo com nossa personalidade, com quem somos. E quem somos é um produto do meio. O Homem sendo um produto do seu meio, a liberdade de escolha, de fato, não existe. Mesmo diante das opções mais simples, entre uma maça e uma pêra, o que decidimos é aquilo que quem nós somos permite.
Você, sendo quem você é, não pode escolher de outra maneira. Porque você é tudo aquilo que você viveu até então e isso é impossível de mudar. E tudo o que você viveu vai lhe inclinar para uma resposta, que muda de pessoa para pessoa. Mas apenas porque cada pessoa viveu diferente, é isso que torna cada indivíduo único: a trajetória.
E como vai daí até a culpa ser irracional?
Bom, se o livre arbítrio não existe, por que sentir culpa por escolhas erradas? Quem você era naquele momento, do qual se arrepende, não permitiu que escolhesse de maneira diferente, por isso a culpa não faz sentido. A culpa não serve para nada de bom para quem a sente, só pesa. Para que se sentir culpado se não poderia ter sido de outra forma?
A culpa não faz sentido se a liberdade de escolha não existe.
A questão é que, sim, somos livres para escolher. Mas somos livres das outras pessoas escolherem por nós, não somos livres de nós mesmos ou do nosso passado. O livre arbítrio não existe porque você, sendo quem você é, não pode escolher diferente. Porém eu posso decidir o oposto, porque eu, sendo quem sou, sou diferente de você.
Não devemos sentir culpa porque nossas escolhas são reféns daquilo que nós somos e não escolhemos quem nós somos.
Bibliografia: NIETSZCHE, F. Humano, demasiado humano. 1878

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Tags: sociologia, filosofia, nietzsche, livre arbítrio, humano demasiado humano.
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