Resenha: "As crianças mais inteligentes do mundo"
- Júlia Orige
- 19 de fev. de 2016
- 4 min de leitura
As crianças mais inteligentes do mundo e como elas chegaram lá, de Amanda Ripley.

“As crianças mais inteligentes do mundo” é a resposta para um sistema que não dá certo. É o por quê de alunos não prestarem atenção nas aulas e um retrato do nosso mundo. É mais uma prova de que as pessoas são aquilo que lhes é permitido ser, o que a sociedade cria. Os estudantes agem de forma diferente em cada país e isso faz toda a diferença.
A autora começa o livro falando que nunca se interessou muito por fazer matérias de educação. Porque lhe pareciam falsas e sem objetivo, não continham opiniões dos estudantes ou estatísticas e puxavam o saco de um sistema falho. Falar em educação num nível nacional é falar do governo e isso é um tanto perigoso, como pôr um alvo na testa pedindo por críticas.
A jornalista Amanda Ripley parte dos resultados do Pisa, um exame internacional de avaliação de que antes eu nunca ouvira falar. O Pisa é pensado para avaliar o pensamento crítico e a preparação para a vida. Não é um exame de múltipla escolha, as questões são abertas e se relacionam com o cotidiano. Amanda fala de seu lugar, como norte-americana e como tal vê os EUA como um país desenvolvido e acha absurdo que não o seja em educação. Mas o país mais poderoso do mundo tem um resultado vergonhoso nessa área e o Brasil tem muito a ver com ele, afinal, ainda somos a América.
Os princípios da cultura norte-americana estão nos filmes de adolescentes. High School Musical é um ótimo retrato disso. Os filmes tratam de um grupo de adolescentes, que cantam o tempo todo mas isso é um mero detalhe, no seu dia a dia na escola, com seus sonhos e problemas. O fantástico é que para ser alguém lá dentro, dentro da escola, é preciso ser parte de um time de esportes ou fazer algum tipo de atividade extracurricular. É o que vale como identidade numa escola de adolescentes.
Um dos problemas está aí, na valorização dos estudos. Segundo a jornalista uma das grandes diferenças entre os países que obtém bons resultados e os que não tem é o quanto eles levam a sério a educação. Ela diz que:
"Nos Estados Unidos, os esportes ocupavam um papel central na vida dos estudantes e na cultura escolar, o que não se via na maioria das superpotências educacionais [...]. Em muitas escolas dos Estados Unidos, os esportes incutiam liderança e persistência em um grupo de alunos, ao mesmo tempo que privavam todos eles da concentração e dos recursos necessários aos estudos. A lição a se tirar não era que esportes e educação não poderiam coexistir, mas sim que esportes nada tinham a ver com educação"
Para seu livro ela analisou o sistema de educação de três países em especial; Polônia, Finlândia e Coreia do Sul, além dos Estados Unidos. A pesquisa foi feita através de entrevistas e contou com a ajuda de três adolescentes intercambistas americanos que foram passar um ano do ensino médio fora.
Todos os três países tinham um resultado melhor no Pisa do que os EUA. Por quê? O que muda nesses países?
Neles foi verificado que a cultura valoriza mais a escola, que a vê como uma base confiável e necessária, como algo que vai garantir o futuro. Também o regime de formação dos professores é bem diferente, o que eu considero o mais importante, mas que é derivado de se dar importância à escola. Para ser professor num desses países é preciso ter as melhores notas, passar por provas difíceis e muitas aulas. As faculdades que formam professores têm prestígio, são reconhecidas como as melhores. Em alguns casos um bom professor é uma celebridade, como acontece na Coreia do Sul.
Nos EUA, assim como no Brasil, quem vai dar aulas mais tarde são os alunos com as piores notas. A nota de corte de um curso de Matemática é muito mais baixa que a nota de corte de Engenharia. Há quem desista de profissões por ser mais difícil de passar no vestibular, essa não é uma realidade plausível para ser professor de ensino médio ou fundamental. Os professores são os que foram pior na escola. Claro que para toda a regra tem a sua exceção e já tive professores incríveis que escolheram sua profissão por amor. Mas quem há de negar que a educação brasileira precisa melhorar?
Falando de um professor de matemática em Oklahoma ela diz que:
"Ele precisava também tirar 19 ou uma nota mais alta no ACT, um teste padronizado nos mesmos moldes do SAT. Naquela época, a média nacional no ACT era de 20,6. Vamos refletir sobre o que isso significa: era aceitável que um aspirante a professor, interessado em se dedicar à carreira de educador, tivesse um desempenho abaixo da média do país em um teste que avaliava tudo que ele tinha aprendido ao longo de sua trajetória escolar."
A chave é o professor. É um processo em cadeia; se o salário for melhor, então a profissão fica mais concorrida, o que faz com que fique mais difícil entrar numa faculdade para se tornar professor e isso seleciona os melhores de alguma forma. Apesar de eu não concordar que vestibular diga quem é inteligente ou não, mas essa é outra discussão.
Indo por esse lado, o livro passa pela questão das provas, de como são feitas e aplicadas. Critica o esquema de decorar para passar e explica como o Pisa foi criado e porque ele é diferente dos outros exames. No Brasil temos o ENEM, que tenta ser mais subjetivo que os vestibulares comuns, mas continua com questões de multipla escolha. O ENEM valoriza a interpretação, porém não dá espaço para ouvir os estudantes.
O que é certo é que não está bom e temos de mudar. Para isso por que não se espelhar em quem já conseguiu? Nem sempre a Finlândia foi um exemplo a ser seguido. Há pouquíssimo tempo atrás a Polônia tinha um índice de analfabetismo gigante! E hoje está melhor que as maiores potências econômicas.
E você o que acha? Já leu o livro?
As crianças mais inteligentes do mundo e como elas chegaram lá. Amanda Ripley. Editora Três Estrelas, 2014.
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