De vila à Ilha da Magia: o turismo em Florianópolis
- Debora Fischer
- 28 de nov. de 2015
- 3 min de leitura
O homem é produto do seu meio.
Disso já se está certo.
Qual será, pois, esse meio, que com tanto poder produz o homem?
O turismo em Florianópolis
Florianópolis é referência mundial. Seja pelas praias mais bonitas, pessoas mais felizes ou melhores resorts para se passar o réveillon, a cidade atrai turistas como nenhuma outra, e o impacto que os mesmos tem na economia é tão grande quanto no trânsito. Pensando nisso, eis que surge a questão: A cidade foi sempre um ponto turístico? Provavelmente não. Então, quando o turismo começou? E como ele afetou o modo como a cidade se desenvolveu?
Fundada em 1675, a vila de Nossa Senhora do Desterro começou como quem não quisesse nada. Durante os primeiros séculos, foi colonizada por portugueses e, depois, por açorianos que, vindos de uma terra bem parecida com a daqui, viviam uma vida tranquila com a pesca e a agricultura familiar
A pequena população morava, como de costume, ao redor da igreja, porém, com a nomeação de capital em 1894, Desterro virou Florianópolis, e, em busca do status de metrópole, o governo investiu em grandes obras no início dos anos 20, como a Ponte e a Avenida Hercílio Luz.
Mais tarde, por volta dos anos 50, o crescimento do aparelho de Estado, a criação da UFSC, e a vinda de sedes de grandes empresas alavancou a cidade como polo de Santa Catarina e começou a atrair cada vez mais pessoas em busca de oportunidades.
Com o passar dos anos, a valorização das praias como destino turístico - e não somente como campo de trabalho dos pescadores – fez do norte da ilha um novo negócio. Rapidamente os investimentos voltaram-se para lá, e dentre as obras visando o desenvolvimento da área, uma grande avenida de conexão foi construída nos anos 60: A Beira-mar Norte. Com a cidade em alta, a população crescia, e não demorou para que os problemas de viver-se em uma ilha com espaço restrito começassem a aparecer.
A lei da oferta e da procura gerou a especulação imobiliária que, aumentando o valor da terra, foi causadora de uma disparidade entre continente e ilha:
Os migrantes da classe média chegavam com o interesse em lucrar com o turismo, transformando as propriedades agrícolas ainda existentes no norte em loteamentos e casas de veraneio.
Os ricos, que moravam no centro, mudavam-se para os novos edifícios da Beira-mar Norte - que ganhava status de área nobre – enquanto o centro em si era dominado pelo comércio e pelas instituições governamentais.
Como consequência, a classe baixa que vinha para trabalhar encontrava-se sem lugar para morar e era obrigada a ir para os morros ou para a área continental da cidade - quando não para as cidades vizinhas - criando uma marginalização socioeconômica entre os moradores daqui e os “do outro lado”.
Esse histórico de ocupação foi responsável pela imagem que por muito tempo se teve da ilha: praias paradisíacas, gente bonita e nada de pobreza. O “padrão internacional” esperado pelos turistas foi fruto da segregação que se fez da classe trabalhadora e dos próprios nativos, negando as origens históricas da cidade para que se construísse um cenário cinematográfico agradável aos olhos.
Felizmente, de uns tempos pra cá, o interesse das pessoas em saber sobre o passado tem feito com que ele sobreviva no presente.
Mais e mais, a ideia de resgate da identidade local vêm se mostrando importante para os moradores e inclusive atraindo mais turistas. Esperançosamente, o interesse em promover esse turismo cultural fará com que a cidade volte suas forças para a valorização de seus patrimônios, preservando sua memória.
A riqueza histórica ainda presente atribui uma identidade cultural à ilha que é responsável por moldar a percepção de quem visita e a vida de quem mora. Não são somente as praias que atraem, mas o charme provinciano e o jeito manezinho de ser fazem da Florianópolis atual um destino conhecido também por sua tradição açoriana.
Os casarios coloridos com janelas brancas e fachadas simples encontrados em Santo Antônio de Lisboa, Ribeirão da Ilha e Lagoa da Conceição compõem a paisagem pesqueira que foi preservada. As baías calmas com barcos à deriva e as ruas estreitas de paralelepípedo emolduram a lembrança que permanece da pacata vila de Nossa Senhora do Desterro.
Foto:
Santo Antônio de Lisboa
Referência:
PIMENTA, Margareth de Castro Afeche. Florianópolis do outro lado do espelho. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2005. 163p. ISBN 8532803245.
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